Santa Catarina tem hoje mais que o dobro de pretendentes à adoção do que
crianças e adolescentes na fila de espera para ganhar uma família. Pelos
números, não haveria ninguém esperando por um pai e por uma mãe nos 168
programas de acolhimento do Estado.
O problema está na escolha: 80% dão
prioridade a menores de três anos, perfil que representa apenas 4% das crianças.
Gelson Merisio, presidente da Assembleia Legislativa de SC, há alguns anos
também pensava assim. Adotou dois recém nascidos. Com o tempo percebeu que
criança faz um pai feliz com qualquer idade e mudou de ideia.
Diante da
matemática que não fecha no Estado, ele uniu a experiência da adoção ao poder
que tem nas mãos como presidente da AL e contribuiu com o lançamento da Campanha
Adoção - Laços de Amor, em maio do ano passado, que estimula a adoção tardia,
múltipla (grupos de irmãos) e também de crianças deficientes através de
histórias reais, mostrando como os laços de amor nascem entre pais e filhos
independente de idade, gênero ou qualquer outra condição.
Ao falar sobre
sua vida pessoal quase esquece que seus filhos não são biológicos. Como qualquer
outro pai coruja, tem a foto dos pequenos, Nicole, 3 anos e Arthur, 13, na capa
de abertura do celular. Se enche de orgulho quando fala dos dois e sinaliza a
possibilidade de adotar mais um, desta vez, maior de três anos.
—
Queremos quebrar tabus e preconceitos que um dia também fizerem parte da minha
vida. As pessoas têm medo de não conseguir firmar vínculos com uma criança mais
velha, mas a idade dela não interfere em nada — diz.
Merisio também
esperou pelas crianças. Foi quase um ano pelo Arthur e cinco anos por Nicole.
Hoje, em meio a tantos compromissos políticos, Merisio encontra uma brecha na
agenda para brincar de balanço no quintal de casa.
Gelson e Márcia
Merísio estavam casados há 10 anos e não tinham filhos quando decidiram adotar.
Márcia lembra que no início o casal teve um pouco de dificuldade até descobrir
que Arthur era autista. Mesmo assim, o menino toca guitarra e joga xadrez. Ver
filmes com a família é uma das suas atividades preferidas.
— Adoção é
uma oportunidade única. Não é uma ajuda só para elas, mas também para os pais —
recomenda.
Campanha retorna em 25 de
maio
Realizada em Santa Catarina pela Assembleia Legislativa,
Ministério Público, Ordem dos Advogados do Brasil e Tribunal de Justiça, a
Campanha Adoção - Laços de Amor será relançada a partir do dia 25 de maio,
próxima sexta-feira.
Na mídia e no portal da campanha,
www.portaladocao.com.br serão
revistas histórias reais e de sucesso sobre adoção tardia, de grupos de irmãos e
de crianças com necessidades especiais.
Os resultados do primeiro ano da campanha
— 2,2% é o aumento no número de crianças para adoção de 2011 para
2012
— 42 pretendentes tomaram a decisão de adotar depois da campanha
—
18% é o número de pretendentes que mudaram de ideia e resolveram aceitar
crianças com mais de três anos depois da campanha
— 7 audiências públicas
foram realizadas pelo Estado
— Foi identificada a necessidade de agilizar os
processos e ampliar o quadro de profissionais nas casas de acolhimento
(psicólogos, assistentes sociais, pedagogos, técnicos)
— Sensibilização de
interessados para adoção tardia. Em um ano, os vídeos foram acessados 10.704
vezes e o site 23.264 vezes.
— O Tribunal da Justiça fez levantamento
estadual e elaborou um Relatório de Visitas aos Programas de Acolhimento
Institucional.
Uma matemática que não fecha
1.652 é o número de crianças para adotar
3.560 é o número de pessoas que
querem adotar uma criança
80% escolhem menores de três anos
4% das
crianças para adotar tem menos de três anos
O que será feito em 2012
— 4 de junho, no Ministério Público, um evento discutirá soluções para
melhorar o acolhimento das crianças;
— Comunicação direta com os inscritos
para adotar: envio de material da campanha na tentativa de ampliar o perfil de
filho buscado (mais velhos, grupos de irmãos e com necessidades
especiais).
— Será sugerido à Secretaria de Assistência Social do Estado a
criação de um grupo multidisciplinar de atendimento às adoções tardias
realizadas para dar suporte às famílias e crianças no período de
adaptação.
— Será criado uma central de atendimento por telefone para
auxiliar os pais que adotaram crianças a resolver conflitos familiares e
melhorar a adaptação. A implantação está prevista para junho deste
ano.
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Colaborou Darci Debona
fonte:http://diariocatarinense.clicrbs.com.br/sc/geral/noticia/2012/05/sobram-pais-na-fila-de-espera-para-adotar-uma-crianca-em-santa-catarina-3762873.html